Pesquisa: assédio é problema crônico no audiovisual

Pesquisa: assédio é problema crônico no audiovisual

Redação
18 mar 22

O movimento Me Too jogou luz sobre um problema global, que, até o momento, tinha pouca credibilidade na lista de prioridades da indústria do entretenimento: o assédio no ambiente de trabalho. Desde então, cresce o número de pesquisas e informações levantadas sobre o assunto. E o dado mais recente foca no setor audiovisual da América Latina: quase 90% das pessoas que atuam na indústria da região já sofreram algum tipo de assédio ou violência durante o trabalho. Para níveis de comparação, no Reino Unido, segundo o estudo Looking Glass ’21, 57% das pessoas que atuam no audiovisual sofreram bullying, assédio ou descriminação em 2021.

A afirmação sobre o mercado latino-americano tem origem em um relatório publicado pelo departamento de mídia, entretenimento e artes da UNI Global Union e pela Federação Internacional de Atores (IFA). No total, 1,4 mil profissionais da área, de 16 países da América Latina (incluindo o Brasil), responderam à pesquisa, que denuncia os níveis de abusos com diferentes recortes.

Um exemplo disso é a análise por gênero das vítimas de assédio e violência, que revelou uma maior incidência sobre pessoas trans e não-binárias (95% disseram já ter sofrido assédio ou violência no local de trabalho), seguidas pelas mulheres (87%), e, por fim, os homens (70%).

Relatório contextualiza problema em cenário global

Entre os diferentes tipos de assédio, o sexual foi reportado por 37% dos participantes da pesquisa — no México, a porcentagem sobre para 54%. O problema, no entanto, não é exclusivo da região. Um estudo liderado pela professora e ativista Anita Hill revelou, em 2020, que, em Hollywood, 42% das mulheres relataram atenção sexual indesejada no trabalho, e 20% foram vítimas de coerção sexual.

O caráter global deste cenário também pode ser observado em outros levantamentos, como a pesquisa liderada pelo Centro de Igualdade de Gênero no Cinema Coreano, que apontou que 74,6% das mulheres entrevistadas sofreram violência ou assédio sexual, enquanto 37,9% dos homens afirmaram o mesmo.

Atitudes machistas são parte da realidade 

O relatório publicado pela UNI e IFA sobre o cenário latino-americano também contemplou dados sobre atitudes machistas no ambiente de trabalho, e revelou que 81% das mulheres enfrentaram esse tipo de comportamento. além disso, são elas o grupo mais prejudicado (36%) quando o assunto são os impactos da maternidade e paternidade sobre carreiras.

Entre as possíveis soluções propostas pela publicação estão investimento na educação e treinamento de profissionais, além de formação de grupos especializados para criar um ambiente de trabalho seguro.

“Existe toda uma cultura machista na América Latina que deve ser combatida. Identificar formas de assédio é uma maneira de fazê-lo,” afirmou Sonia Santana, presidente do Sindcine Brasil e vice-presidente da UNI Media, entertainment and arts Americas.