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Possível tarifa de Trump a filmes gera incertezas na indústria de cinema e streaming

Possível tarifa de Trump a filmes gera incertezas na indústria de cinema e streaming

Redação
08 mai 25

Imagem destaque

Divulgação

Donald Trump

O anúncio de que Donald Trump taxaria em 100% os filmes americanos produzidos fora do país, numa tentativa de trazer as filmagens de volta ao solo dos EUA, gerou reações de choque e incerteza em Hollywood e no mercado global, com especialistas alertando para consequências potencialmente devastadoras para o cinema e o streaming.

Segundo a FilmLA, a produção em Los Angeles caiu quase 40% na última década, enquanto países como o Reino Unido e o Canadá dobraram sua capacidade de estúdios, atraindo grandes produções americanas.

Mas a proposta foi publicada apenas em uma rede social, sem detalhes. Por exemplo, falta clareza sobre o que constitui um “filme produzido no exterior” – se inclui apenas filmes totalmente estrangeiros ou também blockbusters americanos filmados parcialmente fora do país.

Ajuda de Jon Voight

Quem está ajudando o plano de Trump é o ator Jon Voight. De início, ele propõe um crédito fiscal federal de 10% a 20% que seria “acumulável” aos incentivos já oferecidos por estados como Califórnia, Geórgia e Nova York. Por outro lado, há uma penalidade severa: se uma produção baseada nos EUA “pudesse ter sido produzida nos EUA, mas o produtor optar por produzir em um país estrangeiro e receber um incentivo fiscal de produção por isso, uma tarifa será imposta sobre essa produção equivalente a 120% do valor do incentivo estrangeiro recebido.”

Na proposta, o ator sugere uma mudança significativa na propriedade entre plataformas de streaming como a Netflix e os produtores. Para isso, é sugerida a volta da extinta Regra de Interesse Financeiro e Sindicato, com o objetivo de reverter o que Voight chama de “termos de licenciamento draconianos”. Em termos subjetivos, semelhantes às medidas usadas no Reino Unido e no Canadá, Voight e sua equipe querem que as produções elegíveis “atendam a um limite mínimo de um ‘Teste Cultural’ AMERICANO”.

Impacto no preço dos ingressos e possibilidade de retaliação

De qualquer forma, as dúvidas são inúmeras. Randy Greenberg, produtor de Hollywood, alertou que “tarifas sobre filmes rodados fora dos EUA aumentarão os custos de filmagem, e os estúdios pressionarão os exibidores a aumentarem os preços dos ingressos, o que afastará o público dos cinemas”. Ele refere-se a produções como Missão: Impossível – Acerto Final (filmado no Reino Unido, Malta e Noruega) e Avatar: Fogo e Cinza (produzido na Nova Zelândia).

Porém, outros especialistas veem outro cenário em que o aumento do ingresso não aconteça. Em função do incremento dos custos de produção, os estúdios podem tentar aumentar as condições comerciais para a exibição nos cinemas, ou seja, cobrar um percentual médio da renda bruta maior do que os praticados hoje. Seria um repasse de parte dos custos para os exibidores.

Outra consequência possível é retaliação internacional, como a China já pôs em prática. Países como o Reino Unido e a Austrália, que dependem de produções americanas, também podem impor tarifas sobre filmes dos EUA, reduzindo os lucros internacionais de Hollywood, que representaram US$ 21,1 bilhões em 2024.

Incertezas no streaming

Plataformas como Netflix, Disney+ e Amazon Prime, que investem pesadamente em conteúdo global, enfrentam incertezas significativas. A Netflix, por exemplo, produz séries e filmes em diversos países para atender audiências locais, como conteúdos britânicos ou sul-coreanos. Se a tarifa se aplicar a esses projetos, os custos de produção podem aumentar, afetando os preços das assinaturas.

Jennifer Porst, professora de cinema e mídia na Emory University, destacou a dificuldade de aplicar tarifas ao streaming: “Plataformas como a Netflix operam com modelos de assinatura e receita de publicidade, não com bilheteria. Como você taxa um filme ou série específica nesse contexto?”. Além disso, segundo ela, a tarifa pode limitar a aquisição de filmes estrangeiros por distribuidoras americanas, reduzindo a diversidade de conteúdos disponíveis para o público dos EUA.

Embora Trump tenha prometido consultar executivos de Hollywood para garantir que “estejam felizes” com a proposta, a Casa Branca indicou que nenhuma decisão final foi tomada. O porta-voz Kush Desai afirmou que a administração está “explorando todas as opções” para proteger a segurança nacional e econômica enquanto “torna Hollywood grandiosa novamente.”