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Produtores franceses debatem cooperação

Produtores franceses debatem cooperação

Thayz Guimarães
26 fev 15

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Thayz Guimarães

O acordo de coprodução cinematográfica entre os governos francês e brasileiro existe desde 2010 e já rendeu muitos frutos. Mas poderia ser aperfeiçoado, na opinião de produtores estrangeiros reunidos no RioContentMarket na tarde desta quinta-feira, dia 26. Os entraves para que as parcerias aconteçam mais livremente foram a tônica da mesa, na qual foram lembrados também alguns casos de colaboração bem sucedidos.

Amazônia – A Última Fronteira (The Amazon – The Final Frontier) é um dos exemplos felizes. O projeto talvez seja o mais ambicioso de coprodução entre Brasil e França. Produzido pela MPC & Associados, o documentário dirigido por Alexandre Valenti, em 2013, fechou um acordo no qual o Brasil foi responsável por 25% do orçamento – o restante coube a um fundo de investimento francês e às parcerias com o Japão e a Espanha. Mas isso só depois de suar muito a camisa. A discussão acerca desse projeto, que conta a história da Amazônia no século XXI – uma sequência da saga iniciada em 2003 com o filme Heranças de uma Utopia –, levou mais de um ano, entre acordos e desacordos bilaterais, até que se chegasse a um produto final que contemplasse os imperativos dos países envolvidos e que tivesse competência para circular no mundo todo. Apesar disso, Valenti não tem dúvidas de que o esforço valeu a pena. “Sem o Brasil, esse filme não existiria”, afirmou.

Quem não teve uma experência tão positiva assim, apesar do empenho despendido, foi Valérie Abita, presidente do Pariscience – Festival Internacional do Filme Científico, e uma das cabeças da ZED, maior produtora e distribuidora de documentários franceses. Com um vasto catálogo de programas sobre descobertas, ciência e aventuras em seu currículo, Valérie esperava contar com a colaboração brasileira ao incluir os Lençóis Maranhenses como cenário do último episódio da série The Secret Life of Lakes – os primeiros capítulos já estavam prontos quando a equipe descobriu esta formação lacustre, uma “combinação única de água, areia e vento”, no Brasil e decidiu incluí-la no roteiro.

“Infelizmente, não conseguimos fechar uma coprodução com o Brasil, devido às exigências feitas pelas entidades responsáveis de ambos os países – na França pediam que as equipes técnica e artística fossem francesas; no Brasil, que fossem brasileiras. Não conseguimos chegar a nenhum acordo facilitador e produzimos o episódio dos Lençóis Maranhenses em coprodução com o Canadá, que possui acordos mais maleáveis com a França”. Depois disso, a ZED chegou a contratar um diretor executivo para negociar a veiculação de The Secret Life of Lakes no Brasil e, mesmo assim, ainda não deu certo. “Continuo tendo esperanças”, brincou Valérie. A série custou 1,8 milhões de euros e o Canadá foi responsável por 25% dos cerca de 360 mil euros gastos no último episódio.

Noor Sadar, diretor, produtor e fundador da LoveMyTV, por outro lado, teve mais sorte ao propor uma coprodução em terras tupiniquins. A razão talvez esteja relacionada à locação escolhida: o Rio de Janeiro e suas paisagens naturais. Segundo o próprio Sadar, foi graças aos incentivos fiscais e aos investimentos em produções independentes desembolsados pela RioFilme nos últimos anos, em consonância com a Lei 12.485 – que prevê uma cota de conteúdo audiovisual nacional nos canais e operadoras –, que foi possível pensar em uma segunda temporada da série In a America totalmente ambientada no Brasil.

Apesar disso, de acordo com Sadar, os episódios da primeira temporada, os quais foram rodados na França, levavam em média dois dias para ficar prontos. Já no Brasil, as dificuldades de imprimir o mesmo ritmo frenético de trabalho logo se fizeram presentes, fosse por questões burocráticas ou mesmo financeiras (alto custo dos materiais) e de logística de transporte. “No Brasil é sempre demorado”, alfinetou o produtor da série francesa, após reclamar também da péssima locomoção. “E a gente ainda tinha que buscar e deixar os técnicos em casa todos os dias”. Outra dificuldade encontrada foi a adequação das piadas para os públicos brasileiro e francês, já que a série é toda pautada no gênero comédia e o tipo de humor característico desses países é bastante diferente.

Projetos e interesse existem dos dois lados quando o assunto é a coprodução entre Brasil e França, porém, como bem afirmou Alexandre Valenti ao final do debate, “ainda precisamos encontrar um caminho mais fácil, um meio termo que seja bom para todos”.