Tendência pós-pandemia, relançamentos mexem com nostalgia, suprem vácuo de blockbusters e esquentam sequências

Tendência pós-pandemia, relançamentos mexem com nostalgia, suprem vácuo de blockbusters e esquentam sequências

Beatriz Filippo e Fabiano Ristow
02 out 24

Imagem destaque

Divulgação

'Harry Potter' e 'Coraline'

Na ausência completa de novos filmes, os cinemas foram obrigados a relançar produções quando a pandemia começou a enfraquecer. Nasceu ali uma tendência.

Relançamentos não são uma novidade na indústria, mas desde 2021 se tornaram uma prática mais comum porque dão resultados. Até o momento, em 2024, 13 filmes já voltaram às telonas, incluindo Superman (1978), na última quinta-feira, 26, aproveitando o documentário Super/Man - A história de Christopher Reeve (Warner), marcado para 17 de outubro. O argentino Relatos selvagens e Paris, Texas, de Wim Wenders, também voltam nos próximos meses.

Os números nas bilheterias são expressivos. Com 1,1 milhão de ingressos vendidos, essas produções representam 1,1% de todo o público de 2024. No período pós-pandemia, é o segundo maior registro, atrás apenas de 2022 (1,3 milhão/1,3%), que contou com a reestreia de longas de franquias potentes, como Homem-Aranha, Harry Potter e Crepúsculo.

Legião de fãs engajados movimentam cinemas

As franquias, inclusive, são os principais relançamentos do mercado. A estratégia é fácil de entender: essas sagas cinematográficas costumam contar com um número expressivo de fãs, que, movidos pela nostalgia, mostram-se dispostos a engajar em eventos comemorativos.

Em 2024, por exemplo, Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban foi visto por mais de 720 mil pessoas (com exibições pontuais em três diferentes momentos do ano), tornando-se o maior público de um relançamento nos últimos três anos. O número corresponde a 21,6% do público total de Prisioneiro de Azkaban, em 2004.

Longas que não fazem parte de franquias também têm apelo para o público brasileiro. Foi o que mostrou Coraline em seu aniversário de 15 anos, que atraiu quase 300 mil espectadores em agosto de 2024, e Titanic, que, durante a 2ª edição da Semana do Cinema, em 2022, vendeu mais de meio milhão de ingressos.

Nesses casos, o que se nota é que, para um relançamento bem-sucedido, é importante que o filme tenha conquistado, ao longo dos anos, o status cult ou de alta popularidade. Uma longa distância entre o lançamento e o relançamento tem um papel importante; afinal, permite que o filme ganhe tração em outras janelas, em especial o streaming e a televisão, alcançando públicos de diferentes gerações.

Coraline foi particularmente surpreendente. Chegou em um período em que o fenômeno É assim que acaba (Sony) ainda estava fresco nos cinemas e outros blockbusters figuravam entre as primeiras posições do rankng. Ainda assim, a animação conquistou um lugar no top 5. Para muita gente, foi a oportunidade de vê-la pela primeira vez na tela grande.

Como no caso de Coraline, que completou 15 anos em 2024, uma estratégia adotada pelas distribuidoras é usar datas comemorativas como gancho para relançamentos, tornando as exibições verdadeiros eventos.

Relançamentos mantêm mercado aquecido

É importante notar também que os relançamentos servem como recurso adicional para a indústria na ausência de novos grandes blockbusters. Em junho deste ano, a primeira reexibição de Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban atraiu mais de 500 mil espectadores em plena terça-feira, em um momento em que o mercado estava morno.

Outros relançamentos integram uma estratégia de aquecer a campanha de marketing de sequências. Os fantasmas se divertem (1988), por exemplo, voltou às telas pouco antes da chegada de Beetlejuice 2. Mais de 8,3 mil brasileiros assistiram ao longa original neste período — um desempenho não tão expressivo quanto os exemplos citados anteriormente, mas que ajudou a continuação a se tornar um blockbuster com mais de 1,2 milhão de espectadores (e contando...).

Tendência não se restringe ao mercado brasileiro

Mercados internacionais também estão vivendo um momento interessante com os relançamentos. De acordo com o Screen Daily, em 2023, a reestreia de Esqueceram de mim, no Reino Unido, arrecadou £875,000, enquanto Jurassic Park e Abracadabra levantaram mais de £500,000 cada um.

Segundo Doug Davis, CEO da Park Circus, o momento é promissor no cenário global porque, durante a pandemia, os clássicos funcionaram nas telonas, e os exibidores se abriram para essa nova possibilidade de programação.

De outubro a novembro deste ano, o mercado chinês também receberá semanalmente cada um dos filmes da saga Harry Potter. No país, onde a franquia é bem popular, a volta dos oito filmes aos cinemas pode representar um novo ânimo para as bilheterias locais, que, até o momento, estão 22% abaixo de 2023.