RioFilme debate acessibilidade no setor audiovisual

RioFilme debate acessibilidade no setor audiovisual

Thayz Guimarães
13 nov 15

Imagem destaque

Divulgação/Luana Corrêa

Evento RioFilme em ação: debate sobre acessibilidade audiovisual

Já parou para pensar em como seria a sua vida sem o cinema, ou se você não pudesse ver ou ouvir as cenas e a trilha de um filme?  Segundo dados da OMS, cerca de 10% da população mundial sofre com algum tipo de deficiência, isto é, aproximadamente 700 milhões de pessoas – no Brasil, a cifra é um pouco menor, de 6%. Por outro lado, o movimento de inclusão audiovisual tem crescido a cada ano, mas ainda sofre com a falta de adesão do público e de padronização dos recursos. O tema foi motivo de debate no RioFilme em ação: acessibilidade audiovisual, na última sexta na sede da FIRJAN, no centro do Rio.

Em 2013, pela primeira vez, a Ancine incluiu a acessibilidade em sua Agenda Regulatória , documento no qual o órgão apresenta uma série de matérias sobre as quais acredita que é preciso discutir. A pauta deu margem à aprovação da Instrução Normativa n° 116, em 2014, que estabelece que os projetos financiados com recursos públicos geridos pela Ancine devem contemplar legendagem descritiva, audiodescrição e Libras (Língua Brasileira de Sinais), três métodos usuais para a inclusão audiovisual.

Para Akio Nakamura, coordenador de análise técnica de regulação da Ancine, a IN116 marca uma mudança de paradigma na produção nacional e deve garantir um aumento expressivo no número de filmes brasileiros finalizados com ferramentas de acessibilidade. Ele admitiu, no entanto, que a mudança não será imediata. “Claro que não acaba por aqui. A Ancine está pensando na acessibilidade como um processo, atravessando transversalmente as demais ações da agência. Nosso objetivo é que a partir de 2016, esse número cresça para cerca de 115 obras com esses recursos”, afirmou.

Acessibilidade sem padronização

Lara Pozzobon, produtora responsável pelo Assim Vivemos, festival internacional de filmes sobre pessoas com deficiências, também destacou a importância da inclusão audiovisual como uma forma de todos terem acesso ao mesmo produto ao mesmo tempo, sem segregações. “A exigência de produzir os mesmos conteúdos, porém com acessibilidade e sem alterações no orçamento, não é uma loucura burocrática. É um direito humano de pessoas que têm necessidades diferentes”, defendeu.

Porém, o problema maior neste momento é a existência de uma grande diversidade de tecnologias para atender a essas demandas. “No caso do cinema, a situação é ainda mais delicada, pois não houve uma padronização de protocolo, como na TV”, lembrou Augusto Costa, um dos fundadores da CPL - Soluções em acessibilidade. De acordo com Augusto, falta informação no mercado e não há uma diretriz clara. “O ideal é que tivéssemos uma padronização para esse tipo de recurso”, declarou.

Apenas cinemas brasileiros possuem aplicativo para cegos e surdos

Criado na Espanha em 2013, o WhatsCine é um aplicativo que oferece acessibilidade nos cinemas para cegos e surdos, oferecendo recursos de Libras, audiodescrição e legendas descritivas do filme em exibição. Desde 2014, ele também está disponível no Brasil, em salas do Espaço Itaú Frei Caneca (SP), Cine Carioca Méier, Cine Carioca Alemão, Ponto Cine e Cine Joia (RJ). A previsão é que o projeto chegue a mais 40 salas em 2016.

Apesar disso, o aplicativo esbarra não só na falta de conteúdo como na baixa adesão do público. Luiz Mauch, representante do WhatsCine no Brasil, defendeu o projeto dizendo que “depende de um trabalho de formação de público, porque uma população que não tem a cultura de ir ao cinema não vai passar a fazer isso do dia para a noite”. Mas, ressalvou, “hoje, o nosso projeto é completamente viável e rentável”. De acordo com ele, há um grande potencial de crescimento do mercado, levando em consideração o preço médio do ingresso e o fato de um deficiente quase sempre ir ao cinema acompanhado de outra pessoa. A WhatsCine atua em nove países: Espanha, Brasil, EUA, México, Argentina, Colômbia, Panamá, Peru e Uruguai.

RioFilme equipa cinco salas com tecnologias de acessibilidade

Desde 2014, a RioFilme investe no acesso da população com deficiência visual e auditiva à experiência audiovisual. Por meio do Edital Cinema Acessível, a empresa pública garantiu subsídio para instalação de tecnologias de acessibilidade sensorial em cinco salas de exibição do Rio de Janeiro. Em seus últimos editais, lançados em junho e outubro deste ano, a empresa deu continuidade a essa diretriz, exigindo dos proponentes a inclusão de recursos de legendagem descritiva, audiodescrição e Libras nos projetos selecionados.