RioFilme apresenta projetos para 2015

RioFilme apresenta projetos para 2015

Thayz Guimarães
20 jul 15

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Reprodução

Com troca de comando na RioFilme, o ano de 2015 começou como uma incógnita para o audiovisual carioca e o fomento às produções locais. Em fevereiro, Mariana Ribas assumiu a presidência da empresa, que vinha enfrentando críticas de parte da classe cinematográfica do Rio e boatos de redução no orçamento e corte de editais. Apesar disso, Mariana, que está na gestão municipal de cultura há 12 anos, diz não ter do que reclamar. “É um desafio muito grande, mas, em relação à parte administrativa, já estou bastante acostumada”, comentou.

Ao contrário do que diziam os rumores, o plano de fomento para este ano foi apresentado em maio com recursos superiores aos de 2014 – graças a uma parceria de R$ 2 milhões com a Ancine (Agência Nacional do Cinema), a empresa pública carioca garantiu R$ 7 milhões em recursos para cinema e TV, contra os R$ 6,16 milhões do ano anterior -, mas abaixo dos R$ 10 milhões ofertados em 2013.  “O edital faz parte da política pública da empresa, é nossa prioridade. No começo do ano, a gente pegou todos os editais de 2014, definiu as linhas de ação, conversou com a Ancine e abrimos para processo de consulta da sociedade civil”, explicou Mariana Ribas. De acordo com ela, a RioFilme incorporou 70% das 240 sugestões feitas, incluindo reivindicações do movimento Rio: Mais Cinema, Menos Cenário, principal foco de oposição durante a gestão de Sérgio Sá Leitão.

Entre as novidades deste ano, além da parceria com a Ancine para a linha seletiva não reembolsável, estão o retorno das linhas de desenvolvimento, que ficaram de fora do edital 2014; um pitching com canais de TV para as linhas de produção e finalização de longas, e de desenvolvimento de séries e roteiros para TV, em data a definir; um programa de revitalização de antigos cinemas de rua na Zona Norte da cidade, a Rede CineCarioca; e uma linha dedicada a atividades audiovisuais em comunidades do Rio, na qual podem se inscrever, pela primeira vez, tanto pessoas físicas quanto pessoas jurídicas. "Nossa ideia é democratizar o acesso aos recursos da RioFilme, descentralizando os investimentos", afirmou Mariana.

De acordo com a presidente, o edital da linha de investimento em atividades comunitárias também se preocupou em não restringi-lo a projetos de produção nem a pessoas jurídicas. Podem se inscrever pessoas físicas ou organizações com projetos de exibição ("no caso dos cineclubes") ou de capacitação. A ideia é contemplar ideias nascidas nos Pontos de Cultura ou chancelados pelo Prêmio de Ações Locais. "No caso dos Pontos, você não precisa ser de audiovisual. A única restrição é estar sediado no município do Rio", explicou.

Parceria com a Ancine

A parceria com a Ancine começou em julho do ano passado, quando a RioFilme lançou seu edital automático reembolsável valendo-se das recém criadas ações regionais da agência. A união funcionou tão bem que este ano a dobradinha foi replicada para o edital seletivo não reembolsável, voltado para a produção e a pós-produção de longas-metragens. As linhas de fomento então foram divididas da seguinte maneira: R$ 4 milhões para produção e pós-produção de longas-metragens (parceria com a Ancine); R$ 1 milhão para desenvolvimento de série de TV; R$ 800 mil para produção de curtas; R$ 800 mil para desenvolvimento de longas; e R$ 400 mil para atividades comunitárias, distribuídos em prêmios de R$ 25 mil.

O aporte de R$ 2 milhões da Ancine não interfere no repasse dos recursos da empresa carioca, como explica a presidente: “As regras referentes aos US$ 2 milhões estão baseadas no FSA [Fundo Setorial do Audiovisual], mas o restante segue as regras da RioFilme. Você faz então um contrato com a Ancine e outro com a RioFilme, para garantir agilidade nos processos. A RioFilme tem menos instâncias [que a Ancine], então é natural que a gente tenha um processo mais ágil”.

Seleção de projetos

Em relação aos critérios de seleção utilizados pela RioFilme – pauta recorrente do grupo Rio: Mais Cinema, Menos Cenário, que acusa a empresa de privilegiar o potencial comercial de uma obra em detrimento de seu caráter autoral –, Mariana afirma: “Pra mim, tudo é cultura. Eu respeito o trabalho de todo mundo e acho que isso é o que a galera tem que fazer, é respeitar o trabalho do coleguinha e defender o seu. A RioFilme tem a parte comercial – que gera receita para a empresa, e com isso conseguimos reinvestir essa grana nos projetos –, e tem os editais seletivos, que são chamados de ‘editais autorais’, mas, na verdade, tudo é cultura, tudo é importante. O que a gente tem que fazer é identificar as demandas. Existe uma pluralidade do que é produzido. A gente tem que entender e tentar atender de maneira homogênea”.

Ribas afirma que o potencial de público não é levado em consideração nas avaliações do edital seletivo - diferentemente do edital automático reembolsável, que prioriza a listagem das distribuidoras e das produtoras que tiveram melhor desempenho na venda de ingressos no ano anterior. “Nos editais seletivos, o público não conta. O que a gente espera, claro, é que o projeto saia do papel”.

Alto índice de projetos não realizados

O que poderia parecer óbvio, no entanto, não é. Segundo ela, o maior problema nesses editais seletivos, hoje, é justamente a linha de desenvolvimento de projeto. “Depois que a gente tiver os projetos selecionados, nossa maior preocupação será em relação ao desenvolvimento, porque nos últimos três anos a RioFilme selecionou mais de 60 projetos e pouquíssimos foram realizados”.

A empresa decidiu então investir no pitching – ainda sem data – com canais de TV, como forma de viabilizar as produções e diminuir o índice de projetos não realizados. “A RioFilme vai se reunir com alguns canais, apresentar os projetos selecionados, e os que estiverem nessa lista e se interessarem vão poder vir aqui defender o projeto. Se o canal gostar, pode discutir com o proponente sobre o desenvolvimento. Se o dono do projeto topar, ele licencia. Se não topar, tudo bem. A escolha é livre”, explicou Mariana, que acrescenta que os canais não terão ingerência na seleção.

Revitalização de salas na Zona Norte

Em parceria com o Instituto do Patrimônio da Humanidade (IRPH), uma equipe da RioFilme vai percorrer neste mês alguns cinemas antigos do subúrbio para avaliar as condições físicas e jurídicas dos imóveis. A ideia desse estudo, segundo a presidente, é verificar a viabilidade econômica desses cinemas, para saber quais deles poderão ser incluídos na Rede CineCarioca, que já inaugurou outros dois espaços de projeção na cidade: o Imperator, no Méier, e o Nova Brasília, no Complexo do Alemão.

“A gente agendou algumas visitas para fazer um estudo mais amplo e mais específico, retomando o que já havia sido feito, e entender o que é possível fazer agora. Precisamos fechar esse estudo pra saber se a RioFilme é capaz de revitalizar esses cinemas, quais a gente consegue revitalizar, e o custo e a viabilidade econômica de cada um deles. Se não houver viabilidade econômica, a gente não consegue manter os cinemas de pé”, explicou Mariana.

O estudo também prevê uma análise do melhor sistema de gestão para cada um dos cinemas selecionados, de forma que a RioFilme saiba se terá que entrar com subsídio em alguns deles, caso do cinema do Alemão. O valor do projeto ainda não foi definido e depende dos resultados do estudo, que deve ficar pronto até dezembro de 2015.

Até o momento foram selecionados seis cinemas: Cine Vaz Lobo; Cine Cachambi; Cine Guaraci, em Rocha Miranda; Cine Madureira; Tijuca-Palace; e Cine Rosário, em Ramos. Desses seis, somente o Tijuca-Palace e o Cine Madureira não são tombados.