Produtoras discutem planejamento para séries

Produtoras discutem planejamento para séries

Thiago Stivaletti
01 out 15

Imagem destaque

Divulgação

A produtora Mariza Leão com Miá Mello

O debate sobre os desafios para se formatar uma série de TV, no primeiro dia do Rio Market, acabou derivando para uma discussão fértil sobre o grau de profissionalização do setor audiovisual brasileiro hoje.

“Começamos a poder dizer que temos uma indústria aqui. Temos muito o que aprender, estamos engatinhando na produção para a TV. Mas acho que estamos engatinhando bem”, disse Walkiria Barbosa, da Total Entertainment, produtora dos dois Se eu fosse você e da série derivada dos longas, exibida no canal Fox Life. “Não precisa nem comparar com o nível americano ou britânico. É só olhar os mexicanos, que estão muito mais adiantados que nós. Uma série como Prófugos, da HBO, tem um vigor que ainda não alcançamos”.

“Acho que a gente não é indústria ainda. A gente ainda é artesanal. E eu, como produtora, preciso cuidar do detalhe artesanal que vai fazer a diferença”, discordou Mariza Leão, da Morena Filmes, produtora das franquias De pernas pro ar e Meu passado me condena – este último começou como série no Multishow. “O que caracteriza uma indústria? Ter planejamento. Saber qual é a minha carteira de projetos pra daqui a cinco anos. Neste ponto, que se faça justiça ao Fundo Setorial, que está investindo no desenvolvimento de roteiros”. Um pouco antes, ela criticou o teto do FSA de R$ 4,5 milhões para a produção de séries. “Cada projeto exige um orçamento diferente. Uma série como Questão de família [GNT] custa naturalmente mais que Meu passado...”.

Temporada mais enxuta

Renato Fagundes, diretor de desenvolvimento da Conspiração, responsável pelo programa Vai que cola no Multishow e a série Magnífica 70 para a HBO, também ressaltou a importância do investimento estatal. “Tem que ser política do Estado para se ter uma indústria de verdade. Vamos ter que gastar dinheiro nosso [do país]. É uma decisão do governo. Como toda indústria, ela merece ser incentivada e protegida”.

Para ele, a produção brasileira para TV ainda precisa se desamarrar dos padrões americanos em alguns aspectos. “Para Magnífica 70, a HBO nos pediu o padrão de 13 episódios. Mas era muita coisa para o orçamento que tínhamos. Para a segunda temporada, negociamos de fazer apenas dez.”

Mariza e Walkiria citaram como entrave a demora no planejamento de novas temporadas pelos canais contratantes. “O GNT adorou [a série] Questão de família, mas levou um ano para nos dizer que queria a segunda temporada. E eu não tenho uma segunda temporada sem ter reservado o Du Moscovis [protagonista da série], por exemplo”, disse Mariza. “Se eu fosse você foi a segunda série de maior audiência do ano [2013] na TV paga, só perdemos para The walking dead. E ainda assim levamos quase três anos para fazer a segunda temporada.”