Meirelles diz que Globo investirá mais em telefilmes

Meirelles diz que Globo investirá mais em telefilmes

Thiago Stivaletti
26 jun 15

Imagem destaque

Garret Catermole/Getty Images

O produtor e cineasta Fernando Meirelles

O produtor e cineasta Fernando Meirelles foi anunciado esta semana como novo membro do comitê artístico da Globo Filmes. Ele assume uma vaga deixada por Daniel Filho e vai avaliar os novos projetos da produtora ao lado de Cacá Diegues, Guel Arraes e José Alvarenga Jr. Meirelles assume num momento em que a Globo Filmes pretende expandir seu foco para filmes mais autorais, criando um selo de qualidade que permita à produtora ir além das comédias comerciais de grande público que fizeram sua fama.

O diretor de Cidade de Deus vem de uma ótima relação recente com a TV Globo. Só neste ano, sua produtora O2 comandou duas das séries mais elogiadas da emissora, Os experientes e Felizes para sempre. Agora, ele está envolvido na criação de dois projetos de TV internacionais - em parceria com produtoras de Londres e Montreal. Também faz parte da equipe de criação da abertura dos Jogos Olímpicos do Rio e dirige a ópera Pescadores de pérolas, de Bizet, que estreia em setembro no Teatro da Paz em Belém.

Em entrevista ao Filme B, o diretor fala sobre os novos projetos com os quais deve colaborar na Globo Filmes.

Como você vê esse movimento de ampliação da Globo Filmes, produzindo também filmes pequenos de autor, buscando um selo de qualidade, como a TV Globo faz com suas séries e especiais?

Não posso falar em nome da Globo Filmes, acabei de chegar, mas o projeto do [diretor executivo] Edson Pimentel me pareceu muito consistente.  De um perfil mais voltado para filmes que dão bilheteria, a ideia agora é abrir mais o espectro amarrando todas as pontas. Fora o investimento em filmes com outros perfis de mercado, o projeto contempla desde a promoção de sessões gratuitas para formação de público até o aprofundamento da tão aguardada parceria entre cinema e TV.

Já começou a aumentar a presença de filmes brasileiros na grade de programação da Globo, e há um projeto de criação de telefilmes em curso. O cinema da França, da Inglaterra e de outros países da Europa foram e são muito beneficiados por parcerias com canais como o Canal+, o Channel 4, BBC Films, ORF Filmstudios e outros. É boa notícia saber que a Globo Filmes em sua nova fase começa a seguir esta trilha.

Como você espera que seja sua colaboração no comitê? Será mais um trabalho de "garimpar" e selecionar projetos já em andamento, ou também de idealizar projetos do zero?

Para dar conta do volume de projetos que chegam, há um time que lê roteiros, e os que têm potencial são repassados para lermos. Filmes que eu vier a fazer poderão também ser submetidos e contemplados. Até onde eu entenda, a Globo Filmes não cria projetos que partem do zero, apenas apoia projetos de produtores.

Você já conseguiu colaborar de alguma forma com Vazante, primeiro longa solo de Daniela Thomas, e Vale tudo, de Afonso Poyart, sobre o lutador José Aldo, ou ainda está tomando pé dos projetos?

Ambos começaram a ser rodados nesta semana. Conversei com os diretores, mas acho que, se houver alguma colaboração, será mais na etapa de montagem e daí pra frente. Vazante é um filme em preto-e-branco, com quase nenhum diálogo, uma história de época muito forte que se passa em Minas Gerais, sobre um fazendeiro e seus escravos.

Vale tudo é uma biografia do José Aldo, o invencível campeão do UFC, que está sendo dirigido pelo Afonso Poyart, um dos melhores diretores de ação no Brasil, como mostrou em 2 coelhos. Creio que vamos ver lutas como nunca se viu em filmes brasileiros antes. Um projeto com um perfil de filme de arte e outro para um público maior, sem ser comédia. Duas apostas interessantes. 

Com a concentração do circuito em grandes lançamentos, você vê um interesse menor hoje pelo filme brasileiro de perfil autoral? Como vê o acordo da Ancine com os exibidores para limitar o número de salas para um filme num mesmo complexo?

Não há menos interesse em filmes de autor brasileiro; o que há é muito menos dinheiro para lançá-los. É muito importante a cota de tela, é ela quem moldará o mercado do futuro. Sem ela, o cinema vira uma monocultura.  Empresários que justificam essa prática por ser mais rentável deveriam mudar de ramo, ir vender soja para China, por exemplo, já que gostam de monocultura.

Cinema não é apenas renda. Os caras estão envolvidos num negócio que pode ser tão bonito, mas parece que não tem nenhum prazer em apresentar algo instigante em suas telas, incentivar um perfil diferente de público. O único prazer que parecem sentir com seu trabalho é o borderô no final da semana. A vida pode ser mais que isso. Juro.