Cláudio Assis comenta vaias em Brasília

Cláudio Assis comenta vaias em Brasília

Thiago Stivaletti, de Brasília*
21 set 15

Imagem destaque

Divulgação/Junior Aragão

Cláudio: 'Tive uma criação muito machista'

Já era esperado que a passagem do cineasta pernambucano Cláudio Assis pelo Festival de Brasília viesse carregada de polêmica por conta de sua participação ruidosa em um recente debate de Que horas ela volta?, que gerou uma maré protestos nas redes sociais. Pois ela finalmente veio no último sábado, quando, ao subir ao palco do Cine Brasília para apresentar Big jato, seu último longa em competição, ele foi vaiado pela plateia, aos gritos de “Machista!” e “Não passarão!”. No dia seguinte, Claudão, como é conhecido pelos amigos, aproveitou o debate do filme para se defender.

“Quem está me atirando pedra está atirando na pessoa errada. Como podem dizer que eu não gosto de mulher? Botei [a atriz] Conceição Camarotti doente numa cena de Big jato, em homenagem a ela. No meu primeiro curta, Padre Henrique, assessor direto do bispo Dom Helder Câmara morto pela ditadura, dou voz à mãe dele, que sofreu e ficou procurando os assassinos do seu filho. Meu cinema é plugado no social”, afirmou.

Foi a chance de o diretor retomar a fala, já que na véspera o público presente na pré-estreia não deixou que Cláudio apresentasse seu filme. Matheus Nachtergaele, seu protagonista, completou a apresentação e foi aplaudido. As vaias foram uma reação à postura de Cláudio e do colega Lírio Ferreira num debate, há três semanas, com a cineasta Anna Muylaert, no Recife, em torno do filme Que horas ela volta? Eles tumultuaram a apresentação e interromperam falas da diretora algumas vezes. Ambos se retrataram depois, Lírio pela imprensa e Cláudio pelo Facebook.

A sorte de Cláudio foi apresentar, em meio à polêmica, seu filme mais leve e doce. Em Big jato, Marcélia Cartaxo faz a mulher de um limpador de fossas (Matheus Nachtergaele) que, com a falta de trabalho do marido, arregaça as mangas e passa a vender produtos de beleza para sustentar a família - talvez o personagem feminino mais positivo da filmografia do diretor. “Me inspirei na minha mãe, que era professora primária no interior de Pernambuco e também vendia produtos de beleza", disse.

Mais tarde, em entrevista ao Filme B, Cláudio comentou: “Tive uma criação muito machista. Todo nordestino é machista. O Brasil é machista. O mundo é machista. Veja: o sol é homem, a lua é mulher. A Terra é mulher, o homem fode a Terra. Deus, Buda, tudo é homem masculino. Quando eu era estudante, lutei muito para que todos os movimentos das minorias tivessem voz. E hoje esses movimentos vêm me atirar pedra sem nem saber o que aconteceu. Cabe hoje ao homem criar diferente os seus filhos, mostrar que o mundo é diferente”.

* O editor assistente viajou a convite da organização do festival