Rodrigo Teixeira anuncia seus próximos projetos

Rodrigo Teixeira anuncia seus próximos projetos

Thayz Guimarães
09 abr 15

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Divulgação

O ritmo acelerado com que leva a rotina pode ser notado não apenas na diversidade (e na quantidade) de filmes que produz todos os anos, mas também na fala acelerada e nas respostas diretas. Fundador da produtora RT Features, Rodrigo Teixeira, o mais conhecido "infiltrado" brasileiro no mercado de cinema americano, falou com exclusividade ao Filme B sobre seus projetos futuros, aquisições, escolha de investimentos, novas plataformas de distribuição. Entusiasta da pluralidade, ele afirma que é preciso tentar quebrar o paradigma de que só a comédia faz sucesso no Brasil, “porque a filmografia de um país não se faz com apenas um gênero”.

Essa versatilidade pode ser percebida em sua filmografia. Seu primeiro longa de destaque, O cheiro do ralo (2007), levou mais de 170 mil espectadores aos cinemas, de acordo com dados do Filme B Box Office Brasil - um número significativo para um filme considerado de nicho. Já no último ano, foram pelos menos dois lançamentos de peso: Alemão, no primeiro semestre, e Tim Maia, no segundo, ambos com arrecadação superior a R$ 10 milhões. Para 2015, o produtor brasileiro apresenta um leque de cerca de dez projetos em produção, pré-produção ou em fase de desenvolvimento, incluindo a segunda parte de Alemão, drama policial dirigido por José Eduardo Belmonte. Com Cauã Reymond, Caio Blat, Milhem Cortaz, Otavio Muller, Gabriel Braga Nunes e Antônio Fagundes no elenco, Alemão 2 deve ser rodado entre dezembro de 2015 e janeiro de 2016, com expectativa de alcançar ou superar o quase milhão de espectadores do primeiro. (Confira outros projetos abaixo).

Produtor começou adquirindo direitos de livros

Responsável por alguns títulos indies de carreira longa no Brasil e no exterior, Rodrigo se lançou no mercado audiovisual investindo na aquisição de direitos autorais de obras literárias e discos. De lá para cá, não parou mais. Hoje, ostenta em seu catálogo de compras recentes alguns clássicos da literatura brasileira, como Angústia e Memórias do cárcere, ambos de Graciliano Ramos, mas sem deixar de olhar para escritores da nova geração, a exemplo do jovem autor policial Raphael Montes, com Dias perfeitos e Suicidas. Também figura nesta lista uma publicação do americano Jonathan Franzen, ainda sem título.

Apesar da forte inserção no mercado dos EUA, é de São Paulo, onde fica o escritório da RT Features, que o produtor comanda tudo, incluindo um profissional full time na França e uma agência de talentos que o representa nos Estados Unidos, sem contar os serviços contratados de uma prestadora fixa. “Eu consegui algum sucesso com projetos internacionais, mas sou brasileiro. Eu gosto de produzir aqui e não estou pretendendo morar fora. Prefiro continuar sendo um brasileiro produzindo filmes nos Estados Unidos e no Brasil do que tentar me tornar um americano, coisa que eu não sou”, comenta.

Orçamentos ajustados para minimizar riscos

Apenas o feeling e o gosto de Rodrigo Teixeira, segundo o próprio garantiu, podem explicar a existência de projetos tão distintos figurando sob o leque da mesma produtora. “Meu padrão de escolha é o que eu gostaria de ver na televisão e no cinema”, defende, sem deixar de enfatizar seu compromisso como homem de negócios, que prefere trabalhar com orçamentos bem ajustados a cada projeto para garantir o salário no fim do mês. “Quanto mais caro o meu filme custar, menos chance eu tenho de me remunerar”.

Lançado em 2013, Frances Ha (2013), sua primeira produção fora do país, é um exemplo de filme independente que teve boa acolhida. A comédia dramática de Noah Baumbach rodou festivais, fez carreira nos cinemas dos EUA e Brasil e dois meses depois já estava disponível em video on demand (VOD). O drama Night moves, com Jesse Eisenberg, por sua vez, coproduzido pelo brasileiro, não teve um desempenho tão bom. O filme circulou, mas não chegou a estrear no “circuitão”.

“Os tempos de distribuição são diferentes. Night moves foi para o circuito comercial nos Estados unidos, mas poderia ter ido direto para outras plataformas. Eu acredito que daqui a pouco não vai ter mais essa questão de plataforma”, afirma, acrescentando que enxerga no VOD um caminho para muitos filmes que não têm espaço no circuito comercial brasileiro. “O problema da distribuição no Brasil é que você tem poucas salas de cinema e muitos filmes sendo lançados. Apesar de não existir ainda um estudo forte sobre este assunto por aqui, eu estou sentindo que esse [o video on demandé um negócio muito bom para quem está produzindo, porque é um mercado crescente”.

Para Rodrigo, Brasil ainda não tem indústria de cinema

A entrada de filmes brasileiros no mercado internacional não é tarefa das mais fáceis, diz ele. “As majors não olham para o Brasil como mercado, elas olham para um bom filme brasileiro. Elas querem saber qual é o filme que tem perfil para estrear no país deles ou para virar um remake, e se o diretor ou o ator pode ser um profissional que faz filme americano”. Um dos grandes limitadores, diz, é a língua portuguesa. “Os filmes argentinos, por exemplo, têm mais chance de viajar, porque mesmo nos Estados Unidos os hispânicos representam 30% do mercado”. Para o produtor, ainda não se pode falar de uma indústria audiovisual brasileira potente. “Não existe uma indústria cinematográfica no Brasil, e sim uma pré-indústria”, afirma.

 

PRÓXIMOS PROJETOS DA RT FEATURES

- Love promete escandalizar com seu triângulo amoroso entre um garoto e duas garotas. Mas tudo o que se sabe é que o projeto ultrassecreto se trata de um melodrama sexual dirigido por Gaspar Noé (Irreversível) e se passa em Paris. Este é o primeiro filme em língua inglesa do diretor francês. Sem previsão de estreia.

- Era el cielo, o próximo filme do diretor Marco Dutra (Quando eu era vivo), um thriller rodado em Montevidéu, terá Carolina Dieckmann e Leonardo Sbaraglia (Relatos selvagens) no elenco. Sem previsão de estreia.

- Carolina Dieckmann também é presença garantida, ao lado de Marjorie Estiano, na mais recente parceria da RT Features com o diretor José Eduardo Belmonte (Alemão), um terror com pitadas de ação e suspense. O longa encerrou suas gravações em março deste ano, mas ainda não tem título nem data de lançamento.

- Vencedor do Sundance 2015, na categoria de melhor realizador, A bruxa (The witch, no original) leva a assinatura do estreante Robert Edgers na direção e no roteiro. Com lançamento programado para este ano, o terror de época se passa no período das guerras coloniais da América do Norte e conta a história de uma família que mora em uma floresta habitada pela bruxa do título.

- Depois do sucesso de Frances Ha, a parceria entre Rodrigo Teixeira, o diretor Noah Baumbach e a atriz Greta Gerwig vai ganhar outro longa-metragem em 2015, Mistress America, uma comédia sobre famílias temporárias, roubos de gatos, buscas por sonhos e acertos de contas. Mistress foi selecionado para o Sundance 2015.

- As filmagens de Suicidas devem começar no meio do ano. Baseado no romance policial homônimo de Raphael Montes e dirigido por Matheus Souza (Confissões de adolescente), Suicidas apresenta o desenrolar de uma roleta-russa entre nove jovens da elite carioca em um porão da cidade.

- Animal cordial marca a estreia de Gabriela Amaral Almeida – roteirista de Quando eu era vivo – na direção de um longa. As filmagens devem começar nos próximos dois meses.