Kinorama testa plataforma de cinema sob demanda

Kinorama testa plataforma de cinema sob demanda

Thiago Stivaletti
16 mar 16

Imagem destaque

Divulgação

Cena do documentário Sem pena, de Eugênio Puppo

No esforço de aumentar o público dos filmes de nicho, uma turma está apostando no crowdfunding de sessões via internet e na mobilização social para transformar sessões vazias em eventos com sala cheia. A iniciativa é uma parceria da Kinorama, plataforma de cinema sob demanda, com a agência de mobilização Taturana.

Na nova plataforma Cinema sob Demanda, apresentada no RioContentMarket, qualquer produtor pode disponibilizar seu filme para sessões de crowdfunding em todo o país, e qualquer interessado pode demandar e financiar coletivamente uma sessão de um filme disponível. Uma vez confirmada a sessão, os interessados devem comprar o ingresso antecipadamente, para garantir a renda do evento.

A política de remuneração é a mesma do mercado tradicional: 50% para o agente de promoção das sessões e 50% para o exibidor. A iniciativa já havia sido testada no Brasil pela extinta distribuidora digital Mobz. Nos EUA, mais de 400 sessões por ano são promovidas por sites como Tugg e CrowdTorch.

Menos de 10 mil espectadores

“Se a internet fosse sempre o caminho de divulgação, qualquer filme que eu pusesse no Youtube daria muita audiência, o que não é verdade. É preciso muitas vezes ter esse tipo de ação para promover um longa”, afirma Carol Pisorelli, da Taturana. A agência trabalha com cerca de 2 mil “embaixadores” pelo país – pessoas responsáveis por estimular e fomentar as sessões coletivas numa determinada cidade ou região.

Raphael Ericssen, da Kinorama, apresentou as duas maiores questões que norteiam o novo projeto: Como melhorar o acesso a produtos que não são mainstream? E como reformular a lógica de distribuição de filmes em busca de melhores resultados? O executivo apresentou números que corroborariam a iniciativa: nos últimos três anos, a taxa média de ocupação das salas de cinema seria de cerca de 20% - ainda menos, 12%, no caso dos filmes nacionais. E dos 128 filmes brasileiros lançados em 2015, 69% foram vistos por um público de menos de 10 mil pessoas –público que poderia aumentar com as sessões promovidas.

Programação horizontal

O primeiro grande parceiro da empreitada é a Espaço Filmes de Adhemar Oliveira – que também dispõe de seu próprio espaço exibidor, o Circuito Espaço Itaú, para as sessões promovidas. Um exemplo é o documentário Sem pena, sobre a cultura judiciária da prisão no Brasil, que fez público de 7,1 mil em salas, mas depois conseguiu mais 18,5 mil espectadores em sessões mobilizadas. Uma parcela expressiva dos 50 mil espectadores do documentário Awake – A vida de Yogananda, sobre o mestre iogue que difundiu a espiritualidade hindu no Ocidente, também veio das sessões promovidas.

“O cinema está se tornando digital na tela, mas ainda está bastante atrasado em usar as ferramentas da rede como instrumento de comunicação”, diz Adhemar. Quando vejo iniciativas como essa, de um pessoal bem mais jovem, me sinto na obrigação de ao menos experimentar”. Outra das iniciativas recentes de Adhemar em seu Espaço Itaú é o que ele chama de “horizontalizar a programação”: um filme de pouco público entra em apenas um horário numa sala, cuja renda se paga com filmes de maior apelo; mas o tempo do filme pequeno em cartaz é garantido por ao menos quatro semanas, para que ele se beneficie do boca-a-boca.