O governo brasileiro pretende criar uma plataforma de video on demand (VOD) para filmes nacionais, nos moldes das elaboradas por México e Argentina para oferecer seus conteúdos locais. A novidade foi mencionada de passagem na apresentação conjunta da Agência Nacional do Cinema e Ministério da Cultura, na última quarta-feira, dia 1º, no Rio. Em entrevista ao Filme B, o diretor presidente da Ancine, Manoel Rangel, deu mais detalhes da proposta.

“Será uma plataforma pública carregada de obras locais, que contaria com parte do acervo do MinC e outras obras que não encontram circulação comercial. Ainda estamos avaliando o melhor modelo e que tecnologia empregar”, adianta Rangel. A ideia é que o serviço seja apresentado ao mercado em uma cerimônia pública no ano que vem. O investimento viria do Fundo Setorial do Audiovisual, com gestão do Ministério da Cultura.

De acordo com o presidente da Ancine, a intenção é contar com títulos de catálogo e de distribuição restrita em vez de competir com plataformas comerciais que trabalham com lançamentos mais recentes e que ainda não esgotaram seu pleno potencial de rentabilização. “Não queremos atrapalhar a estrutura de janelas que já existe no mercado e que permite a exploração duradoura das obras”, diz.

No México e Argentina, modelos diferentes

Embora já esteja em estudos avançados, ainda não se sabe, por exemplo, se haverá cobrança aos usuários. Em junho deste ano, o México, um dos modelos estudados pela Ancine, lançou a plataforma FilminLatino em sistema misto. Dos cerca de 500 títulos atualmente no catálogo, metade é de produção local com direitos da IMCINE, agência pública mexicana de cinema. Essas obras podem ser acessadas gratuitamente na ferramenta, apenas dentro do país.

Em março, o INCAA, instituto do cinema argentino, anunciou sua associação com a empresa de soluções digitais ArSat para lançar um serviço de VOD com produções locais que poderão ser vistas por streaming a preços populares, também limitadas ao território nacional. A proposta argentina não tem a finalidade apenas de servir como plataforma de visualização, mas também para preservação e futura restauração de conteúdos.

Com foco em instituições de ensino, a Pantalla CACI foi lançada este ano durante o Festival de Cannes, com presença de autoridades audiovisuais da América Latina, incluindo Manoel Rangel. As obras incluídas no serviço são as produzidas dentro dos programas Ibermedia e DocTV, da conferência de países ibero-americanos.

Crescente no mundo, o mercado comercial de VOD é um dos mais recentes desafios para a Ancine, que vem manifestando a importância de adequar os serviços à realidade do setor no Brasil. A regulação desse tipo de plataforma está nos planos da agência até 2016, como manifestado na sua Agenda Regulatória 2015-2016. Entre as questões ainda em análise, está o modelo de cobrança da Condecine para essas plataformas e a possibilidade de estabelecer cotas de conteúdo nacional, como as existentes na TV por assinatura.