“Início de uma nova retomada”, afirma Simone Oliveira sobre próximos títulos da Globo Filmes

“Início de uma nova retomada”, afirma Simone Oliveira sobre próximos títulos da Globo Filmes

Paulo Sérgio Almeida, Rodrigo Saturnino Braga e Beatriz Filippo
29 set 23

Imagem destaque

Com participação em 500 títulos lançados, que geraram cerca de 260 milhões de ingressos vendidos ao longo de sua existência, a Globo Filmes comemora 25 anos em 2023 de olho em uma nova retomada. A empresa, responsável por grandes títulos da cinematografia nacional — que vão de O Auto da Compadecida Cidade de Deus Minha mãe é uma peça Bacurau — aposta em inovação com novos talentos, e segue investindo em uma cartela diversa.

Somente para esses últimos meses de 2023, cerca de dez títulos com propostas e público-alvo bem diferentes terão o selo da Globo Filmes. A lista inclui Meu nome é Gal (Dt/Paris) e Mussum, o filmis (Dt/Paris) no time das cinebiografias; Tá escrito (Dt/Paris), com Larissa Manoela, em busca de espectadores jovens; e Ó paí, ó 2 (H2O), que tem potencial de atrair um público amplo.

Em entrevista à Filme B, Simone Oliveira, head da Globo Filmes, falou sobre as novidades da produtora para os próximos meses, compartilhou uma prévia dos resultados de uma pesquisa sobre a relação atual do público com o audiovisual nacional, e dividiu sua perspectiva sobre as estratégias que o cinema brasileiro precisa adotar para voltar a atrair espectadores para as salas.

Para os próximos anos, o que a Globo Filmes busca? Qual tipo de filme você quer na sua mesa?

A palavra-chave é relevância, o que não quer dizer que seja apenas um filme com grande potencial de público, e sim com temáticas importantes. Estamos buscando filmes que conversem com o público. Mas não vamos deixar de lado os longas de arte, que vão conquistar festivais, e são relevantes em um ambiente internacional e trazem cada vez mais um olhar múltiplo do Brasil. 

Temos um olhar forte também para os filmes infantis, pois valorizamos a formação de público.

Estamos falando do que eu espero que seja o início de uma nova retomada, com essa sequência de filmes grandes, com grande investimento em mídia, e para público variados. 

Observamos o que já foi feito, o que podemos adaptar ou fazer uma sequência, trazendo elementos novos que o público queira ver. Fazemos essa busca ativa ou até em propriedades intelectuais da casa. Foi assim que surgiu a ideia de levar o DPA para o cinema.

Quais são os filmes que você acha que podem frequentar as grandes cadeias de exibição e ajudar no market share do cinema nacional? E quais são os longas com potencial para o chamamado arthouse, que são tão importantes para manter as salas de arte no Brasil?

A partir de novembro temos a estreia de Mussum (Dt/Paris) e Tá escrito (Dt/Paris), que são voltados para públicos amplos, porém distintos. O Mussum é para um público mais velho, e Tá escrito foca no público da Larissa Manoela, que é jovem, e tenta trazer, talvez, uma nova franquia.

Temos ainda o Tô de graça (Dt/Paris), que é baseado na série de maior sucesso do Multishow, e é muito focado em trazer o público de classe C e D de volta para o cinema; Minha irmã e eu (Dt/Paris), com Ingrid Guimarães e Tatá Werneck, que terá pré-estreia no fim do ano; e Farofeiros 2 (Dt/Paris), que estreia em janeiro.

Além disso, no lado dos títulos de arte, teremos Pedágio, da Carolina Markowicz, ainda este ano, além de Marinheiro das montanhas Pérola, que estreiam nesta quinta. Estamos também com o Gabriel Mascaro em O outro lado do céu, que está em montagem. E coproduzimos o novo da Anna Muylaert, O clube das mulheres de negóciosque é um filme autoral que consegue abranger um público maior. O filme vai começar a carreira de festivais para depois ser lançado aqui.

 

Divulgação
'Mussum' e 'Minha irmã e eu'

Os filmes estão aí, então o que é preciso fazer, em termos de comunicação, para avisar que eles existem e provocar as pessoas a vê-los?

Primeiro precisamos entender que público é esse que voltou ao cinema. Talvez seja necessário menos esforço para fazê-lo assistir ao filme brasileiro do que o público que está em casa e ainda não voltou ao circuito.

Estamos fazendo uma grande pesquisa em conjunto com a indústria e com a Datafolha, e também fizemos uma pesquisa qualitativa em conjunto com a CasaMundo, que apresentaremos para o mercado no RioMarket. Acho que as respostas vão ajudar a entender quem voltou ao cinema, quem não voltou, para não ficar só no feeling.

O que vimos na nossa pesquisa é que o público está cada vez mais passivo. Ele não vai atrás [de informação sobre cinema]. Quer ser impactado diretamente em casa, quando está vendo TV, no Youtube ou nas redes sociais. A partir do momento em que ele é impactado, gera essa vontade de ver e de não perder [o filme], porque assim pode fazer parte da conversa de todo mundo.

Para o cinema brasileiro, é muito difícil competir com filmes de US$ 200 milhões ou com efeitos especiais. Acredito que precisamos correr atrás e criar um burburinho através da comunicação e do conteúdo dos filmes. Assim, além de gerar a experiência de estar no cinema, a gente cria a identificação de se ver [nas telas]. Temos que fortalecer os pontos em que somos fortes.

A pesquisa que a Globo mostrou alguma particularidade do público com o cinema brasileiro?

Mostrou. As pessoas acham que a comunicação do cinema nacional é falha porque não sabem que tipo de filme está em cartaz ou quando está passando no cinema. Então precisamos atacar isso diretamente. Fazemos nosso trabalho com a grande mídia e com a Globo, mas precisamos estar muito focados também em dados, redes sociais e turnês com talentos.

Na pesquisa, citam filmes bem antigos. Obviamente falam de Minha mãe é uma peça, mas para falar de drama vão para Central do BrasilCarandiru e Cidade de Deus.

Há também uma crítica forte à comédia. Sempre tiram Minha mãe é uma peça da história, mas existe uma crítica à utilização de estereótipos para a comédia. Acho que isso vem da mudança de mundo que tivemos na pandemia, então o que era aceitável antes — em termos de politicamente incorreto —, hoje não é mais.

A mídia de divulgação das distribuidoras sempre foi muito tradicional. Não está na hora de pedir uma ajuda da equipe de marketing da Globo Filmes para estourar a campanha dos filmes nacionais?

Divulgação
Simone Oliveira

Acreditamos muito na expertise dos nossos parceiros distribuidores para o lançamento dos filmes, mas sempre procuramos agregar nas divulgações e trazer nossos parceiros de criação do grupo para conversa. 

Vamos fazer uma campanha de volta ao cinema, aproveitando as ideias da pesquisa e o line-up forte do cinema nacional neste segundo semestre e começo do próximo ano. Queremos pôr essa campanha no ar antes do final do ano, e a ideia é que seja uma campanha assinada pelo grupo [Globo] para ter mais força. É uma campanha criada pela equipe de criação, pensando que temos a janela de cinema como a mais importante, e não concorrente das outras. Até porque elas se complementam, e, quando um filme vai bem nos cinemas, chega muito mais potente nas plataformas.

Nessa campanha, também temos falado sobre marcar conversas com os exibidores para entender se colocamos uma ação promocional, do tipo: “toda quarta-feira o cinema brasileiro é mais barato”. A ideia é tentar fazer algo mais institucionalizado com a exibição.

A comunicação da Globo Filmes já fez muita coisa, e quem já fez pode fazer de novo.

Precisamos agora da grande mídia e de uma comunicação que faça sentido, além de também agregar e ter cada vez mais conhecimento sobre o digital. 

Às vezes é preciso voltar um pouco atrás, como as turnês com talentos, que a gente costumava fazer. Precisamos voltar a estar com o elenco presente nas praças que não estão acostumadas a vê-los, porque isso faz diferença. É algo que sempre funcionou e que paramos de fazer num momento em que [as campanhas] funcionavam sem precisar disso.

Quando fazemos isso, trazemos um incentivo para as pessoas voltarem às salas, já que vão ver o elenco. Quando essa pessoa já está lá, é mais fácil de ver outros filmes que ela quer assistir.

Na última semana fui à pré-estreia de Nosso sonho em São Gonçalo, que tem um público diferente do que estamos acostumados em prés, e foi animador. Foram duas salas pagas e duas com convidados. Todo mundo estava muito animado, batendo palma, cantando junto, e curtindo a experiência do cinema, que não seria a mesma coisa assistindo em casa.

O Festival do Rio está aí também.

Estamos com 15 filmes no Festival do Rio e vários na Mostra SP, que ainda não teve o número de títulos divulgado. São vários eventos ao mesmo tempo. Temos ainda um evento da Globo sobre negritudes, que vai ter um projeto de Mussum, e o Vibra Open Air, em que a sessão de Nosso sonho esgotou em poucas horas. Nele, estamos com O Auto da Compadecida remasterizado também. Tudo isso para gerar essa experiência, chegar em outros públicos e trazer de volta para os cinemas.