Fuga para China não é possibilidade

Fuga para China não é possibilidade

Redação
03 mar 21

Em março do ano passado, a situação da pandemia era inversa: a China estava em apuros, enquanto o resto do mundo ainda experimentava algum resquício de normalidade. Agora, o que se vê é o oposto. Enquanto o resto do mundo agoniza, a China tem bilheterias saudáveis, com faturamento batendo recordes de antes da pandemia chegar. 

Tendo em vista esse cenário, é natural que os distribuidores internacionais cogitem lançar seus filmes na China enquanto a situação de seu próprio país não melhora. A intenção, porém, não poderá ser levada adiante por uma série de fatores. Em Berlim, onde está ocorrendo o Festival de Berlim, bem como seus encontros de mercado, os compradores chineses estão dando um panorama do que está acontecendo agora no país, que é bom para a indústria local, mas nem tanto para os planos de outros países que buscavam na China sua tábua de salvação. 

Audiência não dá mais tanto valor a filmes internacionais

Ao Hollywood Reporter, a CEO da distribuidora chinesa China Media, Cindy Mi Lin, disse que a recuperação da indústria audiovisual chinesa está se dando em forma de K (quando uma parte da indústria sobe e a outra desce): “Poucas das maiores companhias estão se fortalecendo, enquanto todo o resto se enfraquece”. Para quem quer vender filmes para estrear em território chinês, as notícias são ainda piores, pois as empresas envolvidas em importação de filmes internacionais foram particularmente afetadas financeiramente pela pandemia. “Minha previsão é de que o mercado para filmes indies internacionais seja apenas um terço do costume”, completou Lin.

Há um fator ainda mais preocupante: a mudança de gosto da audiência do país, que tem dado preferência a filmes nacionais e de tom nacionalista – vide o sucesso de My People, My Country e de The Bravest –, deixando cada vez mais de lado os filmes internacionais, mesmo os chamados filmes “de nicho”. E isso não se restringe ao cinema. O fenômeno pode ser observado até nas plataformas de streaming, onde os longas indies internacionais também não têm sido muito valorizados. 

Divulgação
My people, my country

Além disso, a queda do mercado de importações de filmes da China também sofrerá as consequências da censura a Monster Hunter. Melhor dizendo, à falha da censura, que deixou passar no filme um comentário sinofóbico. O longa foi retirado dos cinemas um dia após sua estreia, o que gerou consequências drásticas, como o aumento do tempo necessário para se analisar um filme antes que ele ganhe as telas do país. 

Lançamentos internacionais enfrentam novos obstáculos

Isso pode implicar um atraso de lançamento de um filme internacional, gerando maiores custos de marketing, já que ele teria que realizar uma campanha de lançamento em seu país de origem, e outra, posteriormente, na China; e também aumentaria consideravelmente o risco de pirataria, por não ser um lançamento simultâneo. Outro obstáculo seria a impossibilidade de o elenco viajar até o país asiático para realizar campanhas de marketing. 

Yoyo Qu, CEO da Sweet Charm Pictures, distribuidora que lançou o japonês Masquerade Hotel, sucesso de bilheteria na China, contou ao The Hollywod Reporter que, em Berlim, muitos compradores chegaram a ele querendo vender filmes ao mercado chinês por um preço maior, devido ao sucesso de Detective Chinatown 3 e Hi, mom. "Tenho que explicar para eles que esse realmente não é o caso. Estamos participando do Festival de Berlim, mas estamos extremamente cautelosos", ponderou Yoyo Qu .

Ao invés de ir para a China, parece não restar outra alternativa a cada país a não ser seguir o exemplo chinês,  fortalecendo a indústria local – como o país asiático faz há anos – e seguindo estritamente as medidas de segurança e distanciamento social – como a China também fez exemplarmente.