Acuña passa ao comando da Cinépolis nas Américas

Acuña passa ao comando da Cinépolis nas Américas

Gustavo Leitão
08 abr 15

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Divulgação

Eduardo Acuña está deixando a presidência da Cinépolis no Brasil. Mas não tem motivos para lamentar. Muito pelo contrário. Em agosto, ele assume a gestão da gigante de exibição nas Américas, excluindo a matriz mexicana. Depois de quase seis anos no país, onde deixou uma herança de 315 salas abertas, vai encarar desafios como enfrentar a concorrência chinesa no enorme mercado dos EUA e consolidar sua presença no Chile depois da compra da Hoyts este ano.

Do Brasil, Acuña leva uma bagagem positiva – a expansão da rede foi recorde no período – e também um certo gosto amargo. “Exportado” pela Cinépolis em 2010 para comandar a implantação da exibidora em terras brasileiras, o mexicano se ressente de algumas especificidades da atividade que encontrou por aqui, como a política de intervenção do Estado. “Na hora de decidir em que mercado investir, pode acreditar que cota de tela, meia entrada, redutor de blockbusters e outras limitações vão influir na minha escolha. O país requer os investimentos mais altos e oferece o pior retorno”, afirma.

A ideia, daqui para frente, é que o executivo fique responsável pela coordenação internacional da rede, aproveitando as boas experiências de cada país do bloco americano. Líder do setor de exibição na América Latina (incluindo o México), a empresa tem crescido cada vez mais fora de seu país natal. Até no enorme e complexo mercado indiano, a Cinépolis já alcançou o terceiro lugar. “Temos uma cultura empresarial muito focada nos resultados e na inovação. É nossa política reinvestir uma grande porcentagem do lucro, que já foi de 90%”, diz.

Luiz Gonzaga de Luca assume a presidência no Brasil

O Brasil continua a ser uma das altas apostas da rede, segundo Acuña. Com a saída do executivo, Luiz Gonzaga de Luca assume a presidência da Cinépolis no país, onde já atuava como diretor. Por aqui, a empresa ocupa atualmente o segundo lugar em participação, com 13% da exibição, atrás apenas da americana Cinemark. “É o mercado que mais conheço e onde todo mundo acha que há espaço para crescer. Realmente existe, mas também há alguns obstáculos. A regulamentação da atividade privada aqui é muito mais forte e pesada do que deveria”, defende.

Entre as bandeiras defendidas por Acuña, está a de que mecanismos como a meia entrada e a cota de tela tornam o país menos atrativo para investimentos da exibição. “A meia entrada é a pior doença da nossa indústria, porque causa distorção nos preços. Mas há outros, como a cobrança de 2,5% da renda pelo Ecad, uma coisa de maluco que não existe em nenhum lugar do mundo, e o ICMS de 18%, que também é um imposto sem igual em outros países”, diz.

A regulação da Agência Nacional do Cinema (Ancine) é outro alvo de críticas contundentes. Recentemente, duas medidas federais são os motivos da bronca: uma consulta pública sobre o envio obrigatório de relatórios detalhados de receita da bilheteria, incluindo a meia entrada promocional com parceiros, e o limitador para megalançamentos.

Para Acuña, o novo limitador vem em má hora, com o país enfrentando a perspectiva de uma crise econômica. “Nesse ambiente, uma indústria como a nossa, que ainda pode crescer, estão empurrando para baixo. No lançamento de Cinquenta tons de cinza, tinha gerente me ligando para dizer que espectadores queriam comprar ingresso para o filme e não tinha, enquanto a sala do lado estava vazia”, conta.