Estreias na quinta beneficiaram os cinemas

Estreias na quinta beneficiaram os cinemas

Gustavo Leitão e Thiago Stivaletti
03 jul 15

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Reprodução

Em março do ano passado, depois de meses de discussões, o setor da exibição tomou uma decisão arrojada. Consagrada por décadas, a sexta-feira deixou de ser o dia oficial de lançamento de filmes no circuito. A quinta, antes o pior dia da semana para os donos de cinema, foi adotada por eles como a nova data de estreia, uma virada que acarretou adaptações tanto dos espectadores quanto dos responsáveis pela operação dos complexos. Passado mais de um ano, o Filme B compilou informações e ouviu exibidores para responder à pergunta: valeu a pena?

Os dados numéricos apontam para o “sim”. Com base nos filtros do Filme B Box Office, dividimos o público total das salas brasileiras por dia da semana, um ano antes e um ano depois da mudança. Esse share (fatia percentual) de ingressos vendidos em cada dia revela quais eram (e são) os momentos da semana de maior frequência aos cinemas.

De cara, dá para confirmar que um objetivo foi alcançado: a quinta, que de fato era o pior dia, cresceu, tanto em público quanto em preço médio do ingresso. “Foi uma mudança positiva, com mais benefícios que malefícios. Não vejo possibilidade de volta atrás”, assegura Paulo Lui, presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras, um dos artífices da decisão dos empresários.

Share de quinta já se aproximou da sexta

Um ano antes da mudança, a quinta representava 8,5% do público da semana. Bem distante do fim de semana, que no sábado chegava aos 23,5%. Passados 12 meses do novo dia de estreia, a quinta-feira alcançou os 10%. Ainda fica atrás do sábado e domingo, mas já se aproximou dos 12% de espectadores da sexta. 

Em relação ao preço médio do ingresso, outras mexidas importantes. A escalada do p.m.i. de quinta, de 24,5%, bem acima da alta geral do período (8,4%), mostra os efeitos de uma nova política de preços. Entretanto, o novo dia de estreia ainda apresenta uma média abaixo dos outros dias do fim de semana, o que prova que nem todos os exibidores passaram a adotar o tíquete cheio na quinta. Além disso, o público tende a preferir as sessões premium (3D ou VIP) no sábado e domingo. “Nos meus cinemas, o preço depende da cidade. Nas capitais e cidades maiores, cobro o mesmo preço do fim de semana. No interior, predomina o modelo antigo”, diz Adhemar Oliveira, diretor do Espaço de Cinema.

Mudança criou dia de estreia com promoções 

Para o público, a quinta-feira seria um dia com menos concorrência de programas e, em parte do circuito, uma espécie de “fim de semana promocional”, com filmes novos a preço mais em conta. “Acredito que agora as pessoas têm uma opção interessante de ir ao cinema num dia da semana com estreias e sem salas muito lotadas, o que é positivo e de certa forma seletivo”, defende Hormar Castello Jr., diretor de programação da rede GNC Cinemas.

É consenso, no entanto, que a mudança teve impacto maior nos blockbusters mais aguardados. “A quinta funciona melhor para franquias com uma grande base de fãs, como Vingadores. O fã quer ser sempre o primeiro a assistir ao filme, às vezes antes dos Estados Unidos”, analisa o gerente de programação do Cinesystem, Thiago Oliveira.

No outro extremo, apontam alguns, os títulos de nicho ou de autor têm encontrado mais dificuldade para encontrar seu público neste dia. O problema foi agravado pela decisão de veículos de imprensa de retirar seus tijolinhos de programação cultural dos cadernos semanais. “Os guias dos jornais não se anteciparam. As críticas saem na quinta, mas os anúncios dos filmes continuam na sexta", diz Adhemar, que defende a criação de um aplicativo dos próprios exibidores com horários de programação de todas as redes.

O problema já fez com que dois grupos de cinemas de arte, o Estação e o Casal, do Rio, voltassem seus dias de estreia para sexta. Paulo Lui garante, no entanto, que o movimento é restrito e não deve afetar o pacto que se estabeleceu. Para ele e outros exibidores, ainda é preciso dar mais tempo ao público para desfazer hábitos cristalizados há muito tempo. “Ainda vejo como tímida a reação do público. A mudança vai acontecer, mas num espaço de tempo maior do que tinha sido previsto por alguns”, profetiza Hormar.

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