O amor e o cinema, 18 anos depois

O amor e o cinema, 18 anos depois

Gustavo Leitão
20 ago 15

Imagem destaque

Divulgação/Vantoen P Jr.

Elenco e equipe: clima de reencontro

Muita coisa mudou nas vidas de Luiza e Gabriel, protagonistas de Pequeno dicionário amoroso, nos 18 anos que separam o primeiro filme da continuação programada para estrear no próximo dia 10 de setembro. Mas mais ainda mudou no cinema brasileiro desde a estreia da comédia romântica que marcou época no Brasil em 1997, quando o setor ainda buscava fôlego pós-Retomada e, desde então, vem colhendo os frutos de anos de crescimento e profissionalização.

“Lembro que fiz a maior parte do filme original dentro do meu apartamento para não pagar locação, com a minha cozinheira fazendo a comida para o set”, conta a diretora Sandra Werneck, que teve a ideia de esticar a história há quatro anos, em um momento em que já dava para falar do nascimento de uma indústria de cinema no país. “Filmamos com uma equipe de 60 pessoas, catering e todas coisas que o mercado implantou”, descreve.

No novo filme, protagonistas revivem paixão

Lembrado pela estrutura original de roteiro, dividida em verbetes, o Pequeno dicionário dos anos 1990 contava uma história linear de amor e separação dos personagens de Andréa Beltrão e Daniel Dantas. No novo filme, o tempo passou, eles seguiram a vida separados, com filhos, e voltam a se encontrar. Sentem uma faísca da antiga paixão e decidem dar mais uma chance ao relacionamento. Como era de se esperar, vivem novos dilemas, agora com mais maturidade (ou não?).

“O A a Z do primeiro documenta todos os momentos de uma relação amorosa. Neste, todo mundo já viveu mil coisas e a estrutura não é tão cronológica”, explica a diretora, que no entanto retomou a divisão de capítulos com palavras como mote. O mesmo Paulo Halm assina o roteiro em parceria com Rita Toledo - no original, Roberto Torero fazia a dobradinha com Halm. Mauro Farias codirige com Sandra.

Boca a boca fez a fama do primeiro

Com esse hiato de 18 anos, o novo longa que estreia no mês que vem vai encontrar um cenário bem diferente. Não só o público do primeiro envelheceu como o posicionamento das produções nacionais no mercado é outro. A cultura do blockbuster brasileiro se estabeleceu, com resultados comerciais fortes, mas os filmes de longa carreira, calcados no boca a boca, ficaram cada vez mais raros. E era essa exatamente a arma secreta do Pequeno dicionário original. “Eu não esperava nada do primeiro e comecei a ver filas nos cinemas. O público se identificou com aquele filme meio psicanalítico naquele momento. Ele ficou 29 semanas em cartaz. Hoje, nenhum fica”, diz Sandra.

Embora tenha sido considerado um fenômeno para a época, o longa fez 400 mil pagantes, um número atualmente ultrapassado com frequência pelas comédias de massa brasileiras. Sandra, porém, sabe que tem nas mãos um produto de alcance mais restrito, com todas as características de um filme médio. “O que faz uma produção ultrapassar o milhão de espectadores não é tanto a história ou o diretor, são os atores, os nomes como Ingrid Guimarães e Leandro Hassum. É, como se diz, o filme ‘com público concreto’. Eu diria que o meu é o chamado ‘filme dúbio’”, brinca a cineasta.

Belas locações e núcleo jovem

O filme que chega aos cinemas dia 10 é, de certa forma, também bem diverso do longa de 1997. Enquanto o primeiro tinha um tom mais romântico e uma estética artesanal, com a fotografia esmerada de Walter Carvalho em película, o segundo é uma retomada mais pé no chão da história, rodada em digital. Há ainda uma aposta na renovação de público, com a chegada de uma ala jovem. Pedro (Miguel), filho de Luiza, faz suas descobertas amorosas na internet. Já Alice (Fernanda Vasconcellos), filha de Gabriel, vive as incertezas de uma relação a três. “Os espectadores de quarenta anos para cima, que viram o primeiro, sei que vão agora. Minha dúvida é essa faixa dos 14 aos 20 e poucos”, questiona a diretora.

Ingredientes que seduziram o público nos anos 1990 estão de volta. A continuação aposta de novo nas belas locações do Rio de Janeiro, com paisagens como a Praça XV, o Forte de Copacabana e a Prainha. A trilha sonora leva outra vez a assinatura de João Nabuco, embora agora sem a voz marcante de Ed Motta e com uma presença mais incidental. E Glória Pires, forte chamariz de público das comédias desde Se eu fosse você, reprisa seu papel como a mística Bel, ex-mulher de Gabriel.

Lançamento em cinco cidades

Distribuído pela parceria Downtown/Paris, o novo longa custou mais de R$ 4 milhões, orçamento bem superior dos R$ 900 mil do anterior, alcançados principalmente graças às boas relações da diretora com a então patrocinadora Shell. “Não há comparação possível, porque o primeiro foi produzido com o dólar a um por um”, pontua Sandra. Os recursos, desta vez, vieram do Telecine, da Paramount (por meio do art. 3º) e Funcine.

O lançamento está previsto inicialmente para cinco cidades, em cerca de 75 salas, depois de campanha nas TVs aberta e a cabo e duas coletivas de imprensa, em São Paulo (dia 1º de setembro) e Rio (8 de setembro). Na mesma semana da estreia, chegam ao circuito o drama Infância, de Domingos Oliveira, e a comédia americana Férias frustradas.

Terminada a fase de lançamento, o filme também está programado para virar uma minissérie para o canal GNT, ainda sem previsão de estreia. No momento, Sandra trabalha ainda na finalização do documentário Os outros, sobre sósias de famosos como Cazuza e Ivete Sangalo, e no desenvolvimento de Amores virtuais, longa de ficção sobre relacionamentos na era da internet, com roteiro a quatro mãos com Melanie Dimantas.