Produtoras avaliam edital de núcleos criativos

Produtoras avaliam edital de núcleos criativos

Thiago Stivaletti
10 mar 16

Imagem destaque

Divulgação

Andrea Barata Ribeiro: time de 25 roteiristas na O2

Nos últimos dois anos, o programa Brasil de Todas as Telas da Ancine destinou recursos para os chamados núcleos criativos, grupos de criadores e roteiristas focados em criar projetos de filmes, séries, programas de TV e novos formatos dentro das principais produtoras do país. Na última chamada, realizada há seis meses, 27 grupos receberam R$ 26,8 milhões para desenvolver 154 projetos. Somando-se com a primeira edição do projeto, foram ao todo 55 produtoras contempladas e 620 projetos desenvolvidos - ainda que nem todos necessariamente cheguem à fase da produção.

O modelo se aproxima do utilizado na TV americana, em que equipes de até 15 pessoas se concentram no writer’s room, uma sala reservada a um brainstorm criativo da qual saem ideias para séries como Friends ou Breaking bad. Uma boa parte dos projetos é gestado dentro da produtora, mas contribuições externas também podem ser aceitas.

+Ancine divulga investimento em núcleos criativos

No RioContentMarket, representantes de duas das maiores produtoras do país relataram os resultados positivos da linha de financiamento: Andrea Barata Ribeiro, da O2 Filmes, de São Paulo, responsável por séries como Cidade dos homens, para a Globo, e Filhos do Carnaval, para a HBO; e Bianca Lenti, da carioca Giros, produtora há 19 anos em atuação no mercado.

No ano passado, a O2 contratou 25 roteiristas, que se dividiram em seis núcleos criativos. A tarefa deles era concentrar-se na sede da produtora cinco dias por semana, seis horas por dia, trocando ideias e formatando inicialmente o roteiro de um episódio piloto e a sinopse dos demais episódios de uma nova série. Cada equipe tinha um roteirista-chefe com mais experiência, como Elena Soárez (Eu tu eles, Xingu) ou José Roberto Torero (Pequeno dicionário amoroso), e ao menos um jovem roteirista com pouca ou nenhuma experiência.

"Antes, a gente desenvolvia cada projeto individualmente. Há um ganho muito grande [com os núcleos]. Um dia um você está cansado ou pouco inspirado e alguém traz uma ideia que é discutida e pode ser aprovada ou reprovada pelo grupo. Isso acaba melhorando a qualidade do material final", diz a Andrea. "Senti que a gente estava pela primeira vez num caminho de gente grande".

A produtora também destacou a "relação fundamental" do criador com o produtor para o bom andamento das novas séries ou filmes. Ela não detalhou os temas de cada nova série desenvolvida pela O2, mas adiantou que, dos seis projetos, ao menos quatro devem "vingar" e ser produzidos e negociados com canais de TV.

Criando o contrato

Bianca Lenti, da Giros, lembrou que os núcleos criativos são algo tão novo no mercado audiovisual que ainda não há modelos de contrato consagrados para balizar uma justa remuneração de todos os criadores envolvidos num projeto - daquele que teve simples ideia ou escreveu um argumento ao redator final de um episódio de uma série. “Estamos investindo tempo e energia para elaborar documentos. Quando você põe seis ou oito pessoas numa sala, de quem vem a ideia?”, questionou. Praticamente todos os projetos passam por quatro instâncias: uma equipe fixa de criação, roteiristas externos, consultores de roteiro (os chamados script doctors) e consultores de conteúdo específico.

A produtora detalhou os seis projetos desenvolvidos atualmente na casa, sob a batuta do cineasta Flávio Tambellini (Malu de bicicleta): duas séries de ficção, outras duas documentais e mais duas infantis. Entre os projetos já negociados, estão Queimamufa, série infantil em 26 episódios que será exibida no canal Futura; Marcadas para morrer, cinco episódios sobre mulheres ameaçadas por defenderem a causa agrária na Amazônia, para o canal Cine Brasil TV; e Homo brasilis, série em 26 episódios sobre o método criativo de artistas de nosso tempo, para o Arte 1.