O rastro e o desafio de produzir terror no Brasil

O rastro e o desafio de produzir terror no Brasil

Thayz Guimarães, de São Paulo
13 dez 16

Imagem destaque

Divulgação

Rafael Cardoso e Leandra Leal em cena de O rastro

Sete anos e duas locações bastante distintas separam a concepção e as filmagens de O rastro, filme brasileiro de terror que pretende romper com a falta de tradição do gênero no país apostando na regionalização da história e em cenas recheadas de efeitos especiais. Com direção do estreante J. C. Feyer, o filme é uma coprodução internacional de R$ 4,5 milhões entre a Lupa Filmes (Mato sem cachorro), a americana Orion Pictures (Robocop – O policial do futuro) e a Imagem Filmes, que também cuidará da distribuição no Brasil.

O filme está em fase finalização, com estreia prevista para março de 2017. Mas chegar até aqui não foi tarefa fácil. “Lá atrás, quando tivemos a ideia de fazer um filme de terror, a gente sabia que o desafio seria gigante”, diz o diretor. “O gênero terror vai muito bem por aqui – um filme de arte como o americano A bruxa, por exemplo, fez 700 mil espectadores. Nosso grande desafio é fazer o público assistir a um filme nacional do gênero”, pondera a produtora Malu Miranda.

Outro desafio foi apresentar uma abordagem original do gênero no Brasil - diferente, por exemplo, do terror dos filmes de José Mojica Marins, o Zé do Caixão. “A gente escreveu cinco filmes diferentes antes de chegarmos ao resultado final. Começamos com uma casa abandonada no interior de Minas, mas parecia filme de terror estrangeiro filmado no Brasil, e não uma produção original”, conta o produtor André Pereira.

Terror na vida real

A saída encontrada pela equipe foi transferir o enredo para um contexto urbano e mais ligado à realidade brasileira. “Foi aí que pensamos no hospital, porque esta é uma realidade nossa muito peculiar. Os hospitais daqui, superlotados e carentes, em nada se parecem com os hospitais americanos dos filmes de Hollywood”, explica André. Para J.C., o hospital também acrescentaria ares de drama e denúncia à história de terror.

O novo cenário escolhido foi então uma das alas do Hospital Beneficência Portuguesa, prédio do século 19 localizado no bairro da Glória, no Rio de Janeiro. Para surpresa da equipe, o espaço, desativado há 15 anos, abrigava uma aura mais aterrorizante que a do filme. “Tivemos que fazer uma limpeza surreal no espaço”, conta o produtor. “Além de obras de contenção, porque o teto do andar em que estávamos filmando havia caído, tinha tudo o que você pode imaginar, até montanha de cocô de morcego”.

Na história, Rafael Cardoso (Do início ao fim) é João, médico responsável por coordenar a remoção dos pacientes de um antigo hospital prestes a ser desativado. Na noite da transferência, uma garotinha de dez anos desaparece misteriosamente, dando início a uma perigosa jornada em busca da verdade.

Padrão internacional

Segundo Feyer, a proposta do filme é criar uma história adaptada ao contexto brasileiro, mas com qualidade estética de produção internacional. Para isso, o trailer foi produzido fora do país, produzido pela produtora Zealand da Inglaterra. A parceria, de acordo com a produtora Malu Miranda, veio em forma de apelo: “Eu disse pra eles ‘Pelo amor de deus, é um filme brasileiro, dá um desconto’”, ela riu - veja abaixo o trailer lançado na CCXP de São Paulo.

O orçamento de R$ 4,5 milhões foi realizado com investimento público do BNDES e via Artigo 3°. Malu acredita que o orçamento mais enxuto não chega a ser um problema. Para ela, o diferencial está no roteiro: “Você pode ter um orçamento reduzido e fazer um bom filme de terror se você tiver um roteiro bom e conseguir conter filmá-lo em poucas locações".