Sem sono nem almoço: a vida em busca de locações

Sem sono nem almoço: a vida em busca de locações

Thayz Guimarães, de San Diego
22 jul 16

Imagem destaque

MTV Movie Awards/Divulgação

Locação do inédito Kong: Skull Island

O que seria da sequência final de Star Wars: Episódio VII – O despertar da força, passada em uma bela paisagem no topo de uma montanha com vista para o mar, se ela fosse gerada por meio de computação gráfica em vez de filmada na paradisíaca Ilha de Skellig Michael, na Irlanda? Pouco conhecido pelo público, mas vital na produção de um filme, o pesquisador de locações é um dos grandes responsáveis por dar vida ao cenário e garantir que ele seja o mais adequado para a história. O tema foi foco de debate durante a Comic-Con Internacional, em San Diego, onde estiveram presentes alguns dos mais renomados profissionais da área em Hollywood.

Ao contrário do que se pode imaginar, não há nada de glamouroso nesse trabalho. “Basicamente consiste em muita pesquisa e formação de arquivo iconográfico”, garante John Rakich, responsável pelas locações do épico Pompeia (2014), entre outros. Para Leann Emmert, do inédito Kong – Skull Island (2017) e de Transformers – Era da extinção (2014), o mais difícil é ter de passar uma temporada inteira longe de casa, principalmente quando se tem filhos pequenos.

Comida no carro

Manter uma dieta saudável e o sono em dia também não são tarefas das mais fáceis quando se precisa viajar o tempo todo, muitas vezes para lugares inóspitos. “Imagina ter que dirigir durante quatro ou cinco horas, todos os dias, no meio do nada, sem restaurante, sem mercado. Ou seja, tudo o que você tem para comer é o que está no banco de trás do seu carro. E se você é uma pessoa que gosta de dormir, pode esquecer essa profissão”, advertiu John Rakich.

Mas há também aspectos positivos na profissão, segundo Scott Trimble (Planeta dos macacos – A guerra; Transformers – O último dos cavaleiros), como a grande oferta de trabalho. “Nós trabalhamos sempre como freelancers, jamais para um estúdio ou um filme específico. Por conta disso, já me aconteceu de estar trabalhando em três projetos ao mesmo tempo”, contou.

Buscar locações para o cinema requer habilidades diferentes daquelas necessárias na TV. De acordo com Leann Emmert, tudo na televisão é mais corrido, enquanto no cinema o que pesa é a cobrança e dos executivos:  “Na TV você tem apenas seis ou sete dias até a filmagem começar, mas a expectativa dos produtores é bastante baixa. Já no cinema, você tem mais tempo para trabalhar, porém eles esperam que você apresente várias possibilidades”.

Sem dinheiro, sem paisagem

Locações urbanas também dependem de negociações com os moradores da área escolhida. Responsável pela pesquisa de Straigh outta Compton – A história do NWA (2015), Alison Taylor disse que o mais importante é respeitar a comunidade local, primeiro conversando com os moradores e depois garantindo uma representação adequada nas telas.

No final das contas, todos concordam que o ideal são locações de fácil acesso, baratas e perfeitas esteticamente para o filme ou série, explica Scott Trimble. O problema é que nesta equação não raro acontece de faltar um dos fatores, em geral o monetário. Segundo Rakich, “acontece muitas vezes de encontrarmos o lugar perfeito para as filmagens, mas não termos o dinheiro para bancar aquela locação”.