Dolby Vision quer conquistar Hollywood

Dolby Vision quer conquistar Hollywood

Gustavo Leitão
29 abr 15

Imagem destaque

Depois de sacudir o Consumer Eletronics Show (CES) com um novo sistema que promete imagens mais brilhantes e contrastadas nas TVs de alta definição, a Dolby escolheu o CinemaCon, na última semana, para lançar a segunda fase do seu projeto Dolby Vision: as salas de cinema. A fabricante de equipamentos tem planos de espalhar pelo mundo a tecnologia, que foi apresentada aos exibidores americanos com uma demonstração composta por trailers e sequências de filmes inéditos e a pré-estreia de Divertida mente (foto), novo longa da Pixar.

A escolha da ocasião - a principal conferência da indústria de cinema - e do local - o enorme Colosseum, no Ceaser’s Palace de Las Vegas – dão a dimensão da aposta da empresa, mais conhecida por suas tecnologias de som. O Dolby Vision é um sistema de projeção que oferece high dynamic range, recurso já disseminado na fotografia para ampliar o colorido dos registros. Em resumo, o HDR consegue encaixar uma diversidade de tons maior entre as imagens mais escuras e mais claras, aproximando o resultado final do nível de detalhe que o olho humano, mais adaptável que muitos equipamentos de captação, pode perceber. (Para uma explicação detalhada dos aspectos técnicos do sistema, confira esta apresentação).

Brancos e pretos muito mais intensos

A apresentação em Las Vegas teve suas tecnicalidades, mas nenhuma explicação foi tão contundente quanto as amostras exibidas ali. Em uma demonstração simples, Dog Darrow, vice-presidente sênior da companhia, projetou a mesma imagem, um círculo totalmente branco no meio de um retângulo 100% preto, primeiro em um equipamento 4K e depois no Vision. Enquanto na projeção convencional a parte mais escura parecia lavada, no novo sistema a borda da imagem surgiu totalmente negra, com a bola branca bem definida, arrancando suspiros dos exibidores. “É até difícil saber onde começa a área de projetada nesse caso”, explicou o executivo, destacando o contraste de 1 milhão para um (como comparação, em TVs de LED essa relação costuma ser de 4000:1).

Antes da exibição de Divertida mente na íntegra, foram convocados ao palco a diretora de fotografia da animação, Kim White, e o diretor de arte, Ralph Eggleson. O filme é um dos poucos até agora já confirmados no line-up do Vision, ao lado da ficção científica juvenil Tomorrowland e do remake de Mogli – O menino lobo, também da Disney.

Sistema destaca cores de Divertida Mente

Passado entre o mundo real e a mente da protagonista, o longa da Pixar se valeu da nova tecnologia para dar um aspecto distinto a cada um dos universos. “Quando o mundo humano aparece, ele é dessaturado. Usamos toda a gama de cores possível do Vision para ressaltar a aura de irrealidade das cenas dentro da cabeça da personagem”, explicou Kim. 

Além do colorido, a exibição também chamou atenção pelo tal contraste realçado. Uma das cenas que se destacam se passa no subconsciente, uma caverna escura em que cada uma das formas é totalmente perceptível. “Como a tecnologia é bastante nova, não conseguimos fazer o filme já pensando no Vision. Depois que ficou pronto trabalhamos com nosso colorista para alcançar todo o potencial que o sistema permite”, contou no palco o diretor Pete Docter.

A Disney é o primeiro aliado de peso na batalha da Dolby pelos investimentos dos exibidores, em um campo cada vez mais coalhado de opções tecnológicas. Além dos dois lançamentos já confirmados no line-up, o estúdio também escolheu a Vision para equipar o El Capitan, cinema emblemático de Hollywood, hoje propriedade da companhia. Outro que deve receber o sistema em breve é o Dolby Theatre, atual palco da cerimônia do Oscar. A rede AMC, segundo maior exibidor dos EUA, recentemente assinou uma parceria que vai levar o sistema a alguns dos seus complexos, com quatro instalações já confirmadas.

Dolby Cinema conta ainda com som imersivo

O acordo com a AMC prevê um modelo ainda mais ambicioso (e caro), o Dolby Cinema. Além da projeção em HDR, os complexos que ostentarem a grife terão em suas salas o Atmos (configuração de som imersivo), tela gigante, e um projeto arquitetônico exclusivo, com um enorme videowall no saguão e caixas de som escondidas atrás das paredes, longe da vista do público. A aposta é considerada uma resposta da empresa ao IMAX.

No Brasil, onde os gastos para digitalização das salas ainda pesam no bolso dos exibidores, as negociações por enquanto engatinham, sem nenhuma instalação confirmada até agora. O Vision, por si só, já deve exigir um investimento considerável, já que emprega projetores Christie a laser, uma tecnologia ainda pouco adotada por conta dos altos custos. Os valores não foram divulgados pela Dolby.

A apresentação do Vision no CinemaCon veio depois de um ano de exibições privadas para profissionais de Hollywood. O debut exigiu uma verdadeira operação de guerra da empresa, já que o Colosseum tem uma programação de shows disputada, que não permitiu instalação e testes prévios. A Dolby precisou alugar um armazém nos arredores e deixar cerca de 80% dos ajustes pré-definidos em projetores versão beta.

Tron e Star Wars na lista de possíveis lançamentos

Mas a verdadeira prova de fogo, como no caso de toda nova tecnologia, depende da adoção do sistema por diretores de prestígio e pelos principais estúdios de Hollywood. No palco do CinemaCon, além de Pete Docter, também deu seu aval Paul Feig, que lança este ano a comédia A espiã que sabia de menos e, em 2016, volta com a nova versão de Os caça-fantasmas. “Será um filme com muitas situações de pouca luz, no qual a tecnologia seria bem vinda”, disse o cineasta, sobre o remake.

Fã declarado do Vision, Joseph Kosinski assina em 2017 a terceira parte de Tron, que, segundo rumores, também contará com a novidade. Uma cena do filme com correção de cor específica foi exibida na apresentação, aumentando a expectativa. Na lista de possíveis adições ao line-up, estão ainda Star Wars: Episódio VII - O despertar da força, cujo trailer foi mostrado no evento de Las Vegas, e o novo longa de Ang Lee, Billy Lynn’s long halftime walk, que já contará com o recurso de high-frame rate (taxas de quadros por segundo acima dos tradicionais 24).