MCNs em alta, TV paga em baixa

MCNs em alta, TV paga em baixa

Thiago Stivaletti
08 out 15

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Divulgação

50 tons: filme médio volta a ter grandes bilheterias

Em qualquer faixa etária, hoje as pessoas estão vendo menos TV tradicional do que viam há dez ou 15 anos. Enquanto megacorporações como a Disney perdem bilhões na bolsa americana por ter seu conteúdo atrelado à TV paga, os EUA vêem o fortalecimento dos MCN – Multi-Channel Networks –, agregadores de canais pulverizados sobre diversos temas específicos, de skate e hip-hop a maquiagem e moda para crianças.

Essas grandes mudanças no mercado audiovisual, de um ponto de vista americano, foram tema no RioMarket da keynote de Nathalie Hoffmann, advogada do setor de entretenimento e CEO da Brazil Business Link, empresa de consultoria a produtoras brasileiras nos EUA e empresas americanas do setor no Brasil.

Nathalie citou o crescimento nos EUA de canais MCN que já chegaram ao Brasil, mas ainda não deslancharam por aqui, como Maker Studios e Full Screen. Nos EUA, elas já estão sendo compradas por grandes conglomerados – a AwesomenessTV foi comprada pela Dreamworks, e a FullScreen foi adquirida pela AT&T. Essas novas plataformas fazem sucesso com o que se chama de short form programming, a programação fora do formato e duração tradicional de filmes e séries, mais próximo dos vídeos do YouTube.

Cortando o cabo

“Essas plataformas fazem uma conversão inteligente de conteúdo, tecnologia e publicidade. A venda de anúncios é programada por meio de softwares, e os anunciantes ficam felizes porque o alvo de sua mensagem é direcionado a um público específico”, disse a consultora, lembrando que o volume de investimentos em publicidade no mercado americano está em alta – menos na TV aberta, onde sofreu queda de 10% nos últimos anos.

A TV paga, segundo ela, é um modelo em crise nos EUA. Pesquisas indicam que, de um pacote de 200 canais, o americano assiste em média a apenas 17. Netflix (US$ 9/mês) e HBO (US$ 15/mês) oferecem opções baratas de pacotes on demand. O movimento já é conhecido entre os millenials (geração nascida a partir do ano 2000) como chord cutting (cortar o cabo) ou chord never (cabo nunca). “Esses jovens saem da casa dos pais e jamais vão pagar um plano de TV paga”, comentou.

Download de luxo

Nathalie vê dois fatores que devem ajudar o Brasil a deslanchar nas plataformas online de conteúdo audiovisual, como VoDs e MCNs: a tendência de queda do custo da banda larga no país e o sucesso das mídias sociais – depois dos EUA, o Brasil é o segundo maior mercado para Facebook e Youtube, e é igualmente forte no Instagram, Snapchat e no mercado de games.

Falando sobre cinema e as mudanças nas janelas de exibição, ela citou uma estratégia adotada pelas majors nos EUA que ainda não ganhou força no Brasil: a EST – sigla para Early Electronic Sell-through. Com o declínio do mercado de home video, as majors disponibilizam no iTunes e outras plataformas, três semanas antes do lançamento em DVD e Blu-Ray, um novo título para ser baixado em alta definição ao custo de US$ 20. Segundo Nathalie, a EST rende mais hoje para os estúdios do que o faturamento em DVDs ou a venda dos filmes para plataformas de streaming como a Netflix. “Hoje, 98% da renda de um determinado filme é recebida pelos estúdios nas primeiras oito semanas de carreira”, comentou.

A volta do filme médio

Sobre a produção de Hollywood, Nathalie detecta duas mudanças recentes que devem afetar o tipo de filme feito por Hollywood. A primeira é o aumento do peso da bilheteria internacional na receita dos estúdios. Se há 20 anos a bilheteria doméstica (EUA e Canadá) respondia por 60% da receita total do filme, hoje ela é de apenas 28% - cabendo ao resto do mundo a grossa fatia de 72%. Só a China cresceu em 34% o número de telas de 2004 a 2013. “É impossível que isso não afete o tipo de filme que Hollywood vai fazer nos próximos anos”, disse.

O outro é o que a especialista chama de a volta do filme de médio orçamento em Hollywood, a partir do exemplo da Universal, que este ano emplacou seis títulos entre os 13 mais vistos no ano nos EUA até agora. Em meio a blockbusters como Minions e Jurassic World, o estúdio conseguiu rendas surpreendentes com filmes médios como A escolha perfeita 2 (8º no ranking americano de 2015), Cinquenta tons de cinza (11º) e Straight outta Compton: A história do N.W.A. (13°).